O romance "Caravaggio: um nome escrito em sangue", de Matt Rees, me apareceu como um tesouro perdido nas estantes da Livraria Cultura em Porto Alegre. Matt Rees apresenta sua própria versão da história de um dos grandes gênios da arte, o mestre do barroco.
Michelângelo Merisi, conhecido como Caravaggio, era perseguido por sombras desde sua infância, quando perdeu as pessoas que mais amava.
Boêmio, Caravaggio sempre se encontrava em brigas sangrentas durante a noite. Indo de um lugar a outro, chega em Roma, lugar onde poderia disseminar sua arte, mas encontra problemas com os clérigos do Vaticano. Não compreendiam como as figuras de suas pinturas surgiam das sombras, mas Caravaggio não revelaria seu segredo...
Quando ele trabalhava, a escuridão o cercava. Ele fechara as janelas do estúdio do andar superior de sua casa. Também abrira um buraco no teto e pendurara uma lanterna num sarilho do sótão. A lanterna era usada para destacar seus modelos. Se ele queria uma luz mais difusa ou um raio que viesse de um ângulo diferente, abria um pouco as venezianas da frente do quarto, suavizando as arestas dos rostos dos modelos e salientando-lhes as dobras das roupas em meio às sombras. Ele pintava um fundo escuro e definia as tintas a óleo a partir das trevas. Em cada uma de suas pinceladas, pensava apenas na luz e na cor, e não em faces, túnicas, espadas ou auréolas (p. 52).
Além de utilizar pessoas comuns para posarem como Virgens e Santos, a câmara escura era o seu utensílio favorito no momento da pintura. O objeto projetava uma imagem da moça na tela, uma técnica que aprendera com os homens de ciência no palácio del Monte. Ele marcou-lhe os pontos principais dos traços rapidamente, traçando-os a partir da projeção, de modo que pudesse fazer com que ela se colocasse exatamente no mesmo local na próxima sessão. Então girou o pincel, segurando-o com os pelos em sua direção, e escavou a tinta preparatória com a ponta do cabo. Com golpes únicos, recortou na camada básica o contorno da orelha da modelo, sua testa, seu queixo e suas mãos. Mais tarde preencheria os detalhes, sabendo que a forma e a perspectiva seriam naturais, como vistas de um espelho (p. 58). O espelho não respondia por sua genialidade em animar rostos com dor e devoção. Era um segredo no qual não gostava de compartilhar, principalmente porque queria preservar sua vantagem técnica em relação a outros artistas e, na época havia a Inquisição que considerava a projeção de imagens uma heresia.
O que não agradou muito aos clérigos, foi o rosto de uma prostituta na obra Santa Catarina de Alexandria...
Para ele, as Virgens e os Santos não precisavam ter auréolas ou flutuarem em nuvens, deveriam ilustrar suas emoções, sua glória:
Minhas pinturas são feitas com uma única fonte de luz. Para criar sombras que enfatizam os traços de meus modelos. Ao proceder assim, eu ilustro suas emoções (p. 93).
Logo que conhece Lena Antognetti, apaixona-se e torna-a sua musa em todas as suas pinturas até o final de sua vida. Vê nela o rosto frágil e delicado de uma Madona.
Não estou pintando este quadro da maneira como outros pintores pintaram a Madona de Loreto. Não quero que as pessoas digam: "Ah, a Virgem consegue voar e, oh, que bela casa ela tinha". Eu quero que elas conheçam toda a pureza da alma de Maria e se encham do amor que ofereceu ao mundo através de seu filho (p. 115).
Não se sabe como Caravaggio morreu. Muitas são as especulações. Matt Rees cria um fim surpreendente para o mestre Caravaggio. Sua versão está mais perto do que pensamos ter ocorrido. Esta história é a sua resposta...
Obras mencionadas no livro
Michelângelo Merisi, conhecido como Caravaggio, era perseguido por sombras desde sua infância, quando perdeu as pessoas que mais amava.
Boêmio, Caravaggio sempre se encontrava em brigas sangrentas durante a noite. Indo de um lugar a outro, chega em Roma, lugar onde poderia disseminar sua arte, mas encontra problemas com os clérigos do Vaticano. Não compreendiam como as figuras de suas pinturas surgiam das sombras, mas Caravaggio não revelaria seu segredo...
Quando ele trabalhava, a escuridão o cercava. Ele fechara as janelas do estúdio do andar superior de sua casa. Também abrira um buraco no teto e pendurara uma lanterna num sarilho do sótão. A lanterna era usada para destacar seus modelos. Se ele queria uma luz mais difusa ou um raio que viesse de um ângulo diferente, abria um pouco as venezianas da frente do quarto, suavizando as arestas dos rostos dos modelos e salientando-lhes as dobras das roupas em meio às sombras. Ele pintava um fundo escuro e definia as tintas a óleo a partir das trevas. Em cada uma de suas pinceladas, pensava apenas na luz e na cor, e não em faces, túnicas, espadas ou auréolas (p. 52).
Além de utilizar pessoas comuns para posarem como Virgens e Santos, a câmara escura era o seu utensílio favorito no momento da pintura. O objeto projetava uma imagem da moça na tela, uma técnica que aprendera com os homens de ciência no palácio del Monte. Ele marcou-lhe os pontos principais dos traços rapidamente, traçando-os a partir da projeção, de modo que pudesse fazer com que ela se colocasse exatamente no mesmo local na próxima sessão. Então girou o pincel, segurando-o com os pelos em sua direção, e escavou a tinta preparatória com a ponta do cabo. Com golpes únicos, recortou na camada básica o contorno da orelha da modelo, sua testa, seu queixo e suas mãos. Mais tarde preencheria os detalhes, sabendo que a forma e a perspectiva seriam naturais, como vistas de um espelho (p. 58). O espelho não respondia por sua genialidade em animar rostos com dor e devoção. Era um segredo no qual não gostava de compartilhar, principalmente porque queria preservar sua vantagem técnica em relação a outros artistas e, na época havia a Inquisição que considerava a projeção de imagens uma heresia.
O que não agradou muito aos clérigos, foi o rosto de uma prostituta na obra Santa Catarina de Alexandria...
Para ele, as Virgens e os Santos não precisavam ter auréolas ou flutuarem em nuvens, deveriam ilustrar suas emoções, sua glória:
Minhas pinturas são feitas com uma única fonte de luz. Para criar sombras que enfatizam os traços de meus modelos. Ao proceder assim, eu ilustro suas emoções (p. 93).
Logo que conhece Lena Antognetti, apaixona-se e torna-a sua musa em todas as suas pinturas até o final de sua vida. Vê nela o rosto frágil e delicado de uma Madona.
Madona di Loreto, 1604-06 Igreja de Sant' Agostino, Roma |
Não estou pintando este quadro da maneira como outros pintores pintaram a Madona de Loreto. Não quero que as pessoas digam: "Ah, a Virgem consegue voar e, oh, que bela casa ela tinha". Eu quero que elas conheçam toda a pureza da alma de Maria e se encham do amor que ofereceu ao mundo através de seu filho (p. 115).
Não se sabe como Caravaggio morreu. Muitas são as especulações. Matt Rees cria um fim surpreendente para o mestre Caravaggio. Sua versão está mais perto do que pensamos ter ocorrido. Esta história é a sua resposta...
Obras mencionadas no livro
A Adivinha, 1594 Museu Capitolino, Roma |
Os Músicos, 1595 Museu Metropolitano de Arte, Nova York |
Judite e Holofernes, 1598-99 Palazzo Barberini, Roma |
A vocação de São Mateus, 1599-1600 Igreja de San Luigi di Francesi, Roma |
O martírio de São Mateus, 1600 San Luigi dei Francesi, Roma |
São Francisco em Êxtase, 1595 Wadsworth Atheneum, Hartford, Connecticut |
O amor vitorioso, 1602-03 Gemäldegalerie, Berlin |
O martírio de São Pedro, 1600-01 Igreja de Santa Maria del Popolo |
Marta e Maria Madalena, 1595 Instituto de Belas Artes, Detroit |
Retrato do Papa Paulo V, 1605-06 Palazzo Borghese (coleção particular), Roma |
Descanso durante a fuga para o Egito, 1596-7 Galleria Doria Pamphilij, Roma |
A Madona da serpente, 1606 Galleria Borguese, Roma |
Retrato de Alof Wignacourt, 1607-08 Museu do Louvre, Paris |
Nossa Senhora das Mercês ( As sete obras de misericórdia), 1607 Capela do Pio Monte della Misericordia, Nápoles |
A decapitação de São João Batista, 1607-08 Cocatedral de São João, Valletta |
Natividade com São Lourenço e São Francisco, 1609 Obs.: Roubada em 1969 no Oratório da Campagnia di San Lorenzo, em Palermo, deteriorou-se e foi queimada por mafiosos na década de 80 |
A flagelação de Cristo, 1607 Museo Nazionale di Copodimonte, Nápoles |
Salomé com a cabeça de São João Batista, 1607 Galeria Nacional, Londres |
A negação de São Pedro, 1610 Museu Metropolitano de Arte, Nova York |
São João Batista, 1610 Galleria Borghese, Roma |
Davi com cabeça de Golias, 1610 Galleria Borghese, Roma |
Caravaggio, um gênio dotado de sensibilidade e humanismo......
ResponderExcluirClaudio M
Roberta, "tesouros perdidos" existem vários por aí. O que é preciso, é ter pessoas que se interessem em encontrá-los, e que, principalmente, tenham a sensibilidade de trazê-los à tona, desvelando com a clareza esse ícone da pintura barroca.
ResponderExcluirBjs Fátima
Grande verdade... Obrigada!
ExcluirEstamos em 2018 e foi maravilhoso encontrar seu comentario ilustrado com os quadros mencionados no livro, cujas buscas tenho feito incansavelmente.Tambem encontrei esse livro por acaso e concordo que e um tesouro. Obrigada Roberta.
ResponderExcluirCom certeza, este livro sobre Caravaggio é um daqueles livros que encontramos escondidos nas estantes das livrarias - aos olhares de alguns, podem parecer não muito importantes -mas que são verdadeiros tesouros em termos de conteúdo e história! Obrigada pelo comentário, volte sempre!
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